terça-feira, 18 de abril de 2006

Lápide 004 – Richard Fleischer (1916-2006)


Dia 25 de março falecia, de causas naturais, o cineasta e sobrinho do grande animador Dave Fleischer, Richard Fleischer. Versátil, Fleischer era um artesão que conhecia muito bem seu ofício, tendo levado às telas desde tramas de sabor noir – como Trapped (1949) e The Narrow Margin (1952) –; grandes adaptações para estúdios como a Disney (a adaptação baseada na obra de Jules Verne 20.000 Leagues Under the Sea, de 1954, é um de seus filmes mais conhecidos e celebrados); finos retratos psicológicos de assassinos patológicos, em Compulsion (1959) e The Boston Strangler (1968); filmes históricos – como a reconstituição do ataque a Pearl Harbor no filme Tora! Tora! Tora! (1970) –; até mesmo filmes de encomenda para o cinema descartável de consumo imediato, caso de seus filmes dos anos 1980, como o popular Conan the Destroyer (1984). Contudo, são suas produções para o cinema fantástico, de suspense psicológico e de terror, que resgatam a obra do diretor do limbo no qual tantos artesãos da indústria de Hollywood, por melhor que fossem, acabaram caindo. Filmes como Fantastic Voyage (1966), Blind Terror (1971) e, principalmente, Soylent Green (1973) demonstram que Fleischer era imaginativo e sabia contar histórias intrincadas aproveitando os recursos cinemáticos com elegância. Especialmente Soylent Green que – muito tempo antes de Blade Runner – criava o curto-circuito dos universos do noir e da ficção científica, unificados pela visualidade, pela alegoria, pela forma barroca da trama. É bem verdade que o próprio Fleischer não colheria os frutos e as possibilidades visionárias descortinadas por seus melhores filmes. O veterano diretor, nos anos 1980, acabaria dirigindo continuações de franquias do cinema de consumo que banalizavam e reduziam suas visões – Conan ou Amityville, por exemplo –, tornando sua própria biografia algo como um belo argumento para um filme sobre o esgotamento do cinema imaginativo.

Como a produção de Richard Fleischer é volumosa, destacamos aqui as edições de seus melhores filmes em DVD:

- Trapped, em edição norte-americana.

- The Narrow Margin, em edição norte-americana.

- 20,000 Leagues Under The Sea, em edição norte-americana.

- Compulsion, em edição norte-americana.

- Fantastic Voyage, em edição norte-americana. Esse filme foi lançado no Brasil, com o título Viagem Fantástica.

- The Boston Strangler, em edição norte-americana.

- Tora! Tora! Tora!, em edição norte-americana. Também lançado no Brasil, com o mesmo título.

- See No Evil (nome utilizado nos EUA para o filme Blind Terror, produzido no Reino Unido), em edição norte-americana.

- Soylent Green, em edição norte-americana.

Alcebiades Diniz Miguel

Lápide 003 - Vilgot Sjöman (1924-2006)


Em conseqüência de um derrame cerebral, faleceu, em 10 de abril, o escritor e cineasta sueco Vilgot Sjöman, um discípulo de Ingmar Bergman, que chocou o público da época ao tornar-se um dos primeiros diretores a mostrar no cinema cenas de sexo de maneira realista, em filmes como A amante (Aelskarinnan, 1962); 491 (idem, 1964), adaptado do romance de Lars Goerling; e o díptico Sou curiosa, amarelo (Jag aer nyfiken-gul, 1967) e Sou curiosa, azul (Jag aer nyfiken-blaa, 1968), cujos títulos referem-se às cores da bandeira sueca: não se limitando ao erotismo, a obra de Sjöman engaja-se numa crítica política da sociedade. O cineasta, contudo, só adquiriu fama pelo forte conteúdo sexual de seus filmes, chegando a ser processado diversas vezes, principalmente nos Estados Unidos, por obscenidade e pornografia. Hoje, as cenas de sexo dos filmes de Sjöman podem parecer ingênuas diante da freqüência com a qual os novos cineastas passaram a abordar o ato sexual de maneira escancarada, e geralmente distante de qualquer propósito crítico, em filmes pífios como 9 canções (9 Songs, Inglaterra, 2004), de Michael Winterbottom, e The Brown Bunny (idem, EUA, 2003), de Vincent Gallo. Se Sjöman quebrou tabus da representação sexual, avançando estética e politicamente, a pornografia no atual cinema mainstream não pretende quebrar tabus sociais, limitando-se a refletir o caos social e a perda dos limites.

DVDs disponíveis:

- I Am Curious... (I Am Curious Yellow/I Am Curious Blue Set) - edição da Criterion Collection.

José Rodrigo Gerace