quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Lápide 001 – Walerian Borowczyk (1923-2006)


Walerian Borowczyk foi um dos diretores mais interessantes do cinema polonês, iniciando sua carreira produzindo uma série de cartazes de filmes e, a partir dos anos 1950, dezenas de animações de impacto e humor negro. Fugindo do regime comunista, Borowczyk continuou a produzir na França com Jan Lenica; as animações gráficas, alegóricas, surrealistas da dupla, feitas com objetos, recortes e fotografias, fugiam da tradição comunista da animação inspirada em contos de fada e lendas populares: Dom (1958), Le théâtre de M. et Mme Kabal (1962) ou L’Encyclopédie de Grand-maman (1963) registram a alienação do homem após Auschwitz e Hiroshima, condenando tanto a ordem burguesa quanto a ordem comunista. Em Renascimento (Renaissance, 1963), um cenário é explodido por uma bomba e “reconstituído” por animação, apenas para voltar a ser novamente explodido; Les jeux des anges (1964) evoca o nazismo com imagens cruéis... Passando para o cinema live-action, fixou-se no erotismo: realizou o kafkiano Goto, a ilha do amor (Goto, L’île de L’amour, 1968) e exaltou as perversões em Contos imorais (Contes Immoraux, 1974), com Paloma Picasso vivendo, num dos quatro episódios, a Condessa Elisabeth Bathory que se banha no sangue de cem virgens para permanecer sempre jovem; e em História de um pecado (Dziejz Grechu, 1975) – talvez sua obra-prima, acompanhando a lenta perdição de uma garota seduzida. Menos empenhados foram A mulher e besta (La Bête, 1975), que apresenta um caso escabroso de monstruosidade hereditária, que confirma a tese de Jean Boullet que, no ensaio La Belle et la Bête, associa a monstruosidade ao complexo de Édipo, com um erotismo surreal de bestialidade explícita que chega às raias da paródia; A margem (La Marge, 1976), com a dupla de corpos eróticos Sylvia Kristel e Joe Dalessandro entregando-se à sodomia; As heroínas do mal (Les Héroïnes du Mal, 1979), que evoca o universo do Marquês de Sade. Em todos os filmes de Borowczyk, mesmo nos piores, como Emmanuelle V (1987), percebemos, na textura e plasticidade das imagens, a mão do artista gráfico, pintor e animador formado na Escola de Belas Artes da Cracóvia. Resvalando na pornografia soft, o diretor atraiu o desprezo da crítica, mas sua obra fortemente ancorada na tradição do Surrealismo ainda não foi devidamente avaliada.

DVDs disponíveis:

- Contes immoraux (1974), em edição inglesa;

- The Story Of Sin (Dzieje Grzechu) (1975), em edições americana e inglesa;

- Interno di un convento (1977), em edição inglesa;

- Emmanuelle V (1987), em edição americana;

- Cérémonie d'amour (1988), em edições americana e inglesa.

Luiz Nazario