terça-feira, 28 de novembro de 2006

Lápide 006 - Robert Altman (1925-2006)


Nascido em Kansas City no ano de 1925, o produtor, diretor e roteirista Robert Altman morreu a 20 de novembro de 2006, aos 81 anos, num hospital de Los Angeles, deixando atrás de si uma filmografia impressionante: 87 filmes dirigidos, 38 produzidos, 38 roteirizados – além de 5 filhos de 3 diferentes esposas. Não acertava sempre: fez alguns filmes muito ruins, mas também produziu obras permanentes.

Altman estudou engenharia na Universidade de Missouri, em Columbia, e lutou na Segunda Guerra Mundial, antes de lançar-se no cinema como documentarista em 1951. Desta fase destaca-se seu tocante documentário O espírito de James Dean (The James Dean Story, 1957), realizado logo após a morte do astro, com depoimentos de professores, amigos e parentes próximos. Trabalhou em seguida para a TV, realizando episódios de séries, como dois para “Alfred Hitchcock Presents”, intitulados The Young One (1957) e Together (1958).

Até 1968, Altman permanece atolado em produções televisivas, até que tem a chance de realizar No assombroso mundo da lua (Countdown, 1968), um suspense crítico e realista sobre a corrida espacial, imaginando uma tentativa aventureira da NASA em colocar às pressas, sem as condições ideais, o primeiro homem na Lua. Ainda mais impactante será Uma mulher diferente (That Cold Day in the Park, 1969), filme ainda pouco conhecido, mas que é sem dúvida um dos pontos altos da filmografia de Altman: ao adaptar uma novela sobre um homossexual rico e solitário que caça um jovem num parque para viver com ele, o cineasta, aparentemente conformando-se aos padrões morais da época, mas já os subvertendo, muda o sexo do personagem: a extraordinária Sandy Dennis, como a agora “rica e solitária” caçadora de rapazes, revela nuances perceptíveis, tornando este exemplar de horror gótico ainda mais inquietante.

Altman tornou-se famoso, contudo, com seu filme seguinte, a grotesca comédia M.A.S.H. (MASH, 1970), onde tentou tornar palatáveis os horrores de um hospital militar dirigido por sádicos “divertidos”. A trama se passa na Guerra da Coréia, mas a crítica de Altman à brutalidade da intervenção norte-americana no Vietnã é evidente, pelo que este é considerado o primeiro filme a abordar essa guerra no cinema, ainda que de forma velada. É o mais popular dos filmes de Altman, mas nem de longe o melhor. Mas foi nele que o diretor descobriu o potencial dramático dos rituais, nos quais se inspirará para elaborar a narrativa de seus filmes mais autorais.

Assim é a estranha comédia Voar é com os pássaros (Brewster McCloud, 1970), história de uma obsessão, e de sua cura; o estranho faroeste Onde os homens são homens (McCabe and Mrs. Miller, 1971), banhado na luz invernal da fotografia de Vilmos Zsigmond e na melancolia das canções de Leonard Cohen (“The Stranger Song”, “Sisters of Mercy”, “Winter Lady”); o estranho drama Imagens (Images, 1972), no qual mergulhou fundo no universo da esquizofrenia.

O longo adeus (The Long Goodbye, 1973), baseado no policial de Raymond Chandler, não consegue nem captar nem subverter a atmosfera do filme noir; Renegados até a última rajada (Thieves Like Us, 1974) não diz a que veio; e Jogando com a sorte (California Split, 1974) é mais um “filme de jogo”.

Parecia que a carreira de Altman entrava em declínio, mas eis que ele ressurge com seu filme mais espetacular: Nashville (Nashville, 1975), aonde levou seu estilo à perfeição. Todos os personagens que se dirigem ao mais famoso festival de música country giram em torno de um cadáver ainda não identificado: o da gloriosa estrela, que será assassinada em pleno show.

Depois deste extraordinário sucesso, Altman dedicou-se, cada vez mais, a explorar os rituais em seus filmes. Interessava-lhe, mais que nunca, colocar o homem diante da morte, para imaginar se ele tomaria consciência dela ou se faria alguma coisa para escapar dessa consciência. Em seus filmes a ação passou a girar em torno de um cadáver. O corpo, que sintetiza a realidade cruel, é ignorado pelos personagens, que circulam em torno dele, lançados no redemoinho sem sentido de suas vidas, incapazes de assimilar a realidade, que depende da consciência que se toma da morte. Nos filmes mais autorais de Altman, os personagens não têm existências autênticas; vivem apenas entre rituais e cerimônias: “Estou sempre buscando uma arena. Na maioria dos filmes que fiz, a ação está concentrada em algum tipo de arena”, declarou o cineasta.

Arena como espaço ritual da violência; arena como concentração de forças em conflito; arena como palco de um espetáculo truculento: sobretudo após Nashville, nos filmes de Altman a violência é integrada ao entretenimento e torna-se um dos ingredientes do espetáculo. Em Buffalo Bill (Buffalo Bill and the Indians, or Sitting Bull’s History Lesson, 1976), onde o cineasta revê a lenda de Buffalo Bill, a arena é o parque temático de um velho vaqueiro decadente. Em Três mulheres (3 Women, 1977), Altman retorna ao universo da loucura, e cria uma fantasia bizarra que desconcerta e alucina o espectador. Em Cenas de um casamento (A Wedding, 1978), os rituais de um matrimônio burguês realizam-se em torno do cadáver da venerável avó representada pela diva do cinema mudo Lillian Gish, simbolizando quase a morte do grande cinema norte-americano, ou mesmo de toda uma civilização.

Mas logo ocorre um novo declínio: a ficção científica Quinteto (Quintet, 1979), talvez o pior filme de Altman, ou segundo seus fãs um filme avançado para a época, antecipando o tipo de fantasia de um David Lynch, o que o faz merecer uma revisão (embora eu duvide que ela possa melhorar a claustrofobia da aborrecida trama e a duvidosa direção de arte). Um casal perfeito (A Perfect Couple, 1979) é uma comédia por vezes deliciosa, mas apenas uma comédia. E, em Polícia do corpo perfeito (HealtH, 1980), os rituais de uma vida saudável são tratados de maneira superficial, sem qualquer transcendência. Estaria Altman entregando os pontos?

Não: Popeye (idem, 1980), que os críticos em geral detestam, encanta até hoje pela maneira como o diretor consegue transformar um cartoon em filme com personagens de carne e osso, sem recorrer a grandes efeitos especiais, apenas escolhendo o elenco perfeito: Robin Williams como Popeye, Shelley Duvall como Olívia Palito... Também o elenco de O mito sobrevive (Come Back to the Five and Dime, Jimmy Dean, Jimmy Dean, 1982), especialmente Karen Black e Sandy Dennis, torna este drama de origem teatral (de autoria de Ed Graczyk) um filme acima da média.

Também de origem teatral, O exército inútil (Streamers, 1983), baseado na peça de David Rabe, é outro acerto de Altman. Soldados confinados numa caserna esperam ser convocados para lutar no Vietnã. O homossexual Richie está decidido a conquistar o coração de Billy, que apenas gosta dele como amigo. Richie, porém, não está convencido disto, e para levar Billy a um mergulho dentro de si mesmo, à procura de desejos reprimidos, tenta provocar a libido recalcada dos outros soldados, num jogo perigoso de ciúme e frustração. O negro Carlyle, que deseja apenas saciar em Richie seu desejo animal, não percebe que Richie representa (sendo) o homossexual apenas por amar verdadeiramente o amigo que humilha, colocando-se em situação degradante para tentar assim seduzi-lo. Assim como Roger, que sente por Richie uma curiosidade mórbida, Carlyle é apenas uma peça do jogo e, ignorando suas regras, introduz a violência que elimina Billy. É quando Richie, depois de provocar a tragédia, tira a máscara e confessa, na mais singela inocência: “Eu só queria pegar na mão dele!”, revelando sentimentos mais difíceis de serem expressos que realizados, sendo a liberdade mil vezes mais reprimida que o poder e a carícia mil vezes mais temida que a penetração.

Os anos 1980 não foram espetaculares para Altman. Ele retornou às produções para a TV, intercaladas com filmes de baixo orçamento, que não encontraram muita receptividade: Van Gogh – Vida e obra de um gênio (Vincent & Theo, 1990); O.C. and Stiggs (1987); Além da terapia (Beyond Therapy, 1987); Louco de amor (Fool for Love, 1985); Secret Honor (1984). Assim foi até O jogador (The Player, 1992), um novo sucesso, girando, mais uma vez, em torno de um cadáver. Este, um negro desconhecido, morto pelo rico e famoso diretor de cinema, e que deve ser encoberto para não lhe atrapalhar a carreira. Não é um filme tão bom quanto avaliou a crítica. A trama, que poderia proporcionar um suspense a Hitchcock, termina num anticlímax. É mais uma paródia de Hollywood feita por um deserdado convicto, que permanece, porém, ligado ao sonho do sucesso. Ridicularizando a necessidade de se fazer um filme com violência, sexo, astros, etc. o cineasta independente não dispensa os astros, o sexo, a violência, etc. Altman é um marginal que deseja “lamber” o centro, permanecendo à margem, esticando ao máximo sua língua. Os cameo-roles de dezenas de astros é o maior achado do filme: podemos nos divertir identificando cada famoso perdido nos cenários. O mais difícil de ser encontrado é Brad Davis, já modificado pela AIDS.

Em Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts, 1993), baseado em nove novelas e um poema de Raymond Carver, desenrola diante do público os rituais cotidianos de 22 pessoas de Los Angeles, interligadas por relações nem sempre fortuitas e por alguns cadáveres: o menino atropelado; a mulher morta no lago; a mulher assassinada na última cena do filme, em meio a um terremoto. O filme parece mostrar que a diferença entre a barbárie e a diversão dissolveu-se na América.

No genial Prêt-à-Porter (Prêt-à-Porter, 1994), os personagens serpenteiam ao redor do cadáver do marido de Sophia Loren. O final do filme é ambíguo. O desfile de modelos nuas revela o vazio da moda. O desfile prossegue no enterro, que adquire o status de um símbolo: o da morte de nossa civilização. O estilista alemão Karl Lagerfeld processou Altman por uma cena em que é chamado de copiador. A cena foi cortada das cópias exibidas na Alemanha. Em Paris, a um crítico que atacou o filme por possuir demasiadas tramas e personagens, a ponto dele – jornalista – perder o fio da meada, Altman respondeu: “Você é filho da televisão. Deveria assistir a Forrest Gump. Ele é todo sobre um assunto apenas. Você será capaz de acompanhá-lo”.

Depois deste novo ponto alto de sua carreira, Altman caiu novamente lá embaixo: Kansas City (Kansas City, 1996) é de seus piores trabalhos. O diretor escalou Harry Belafonte para interpretar o cruel vilão que ordena torturas em forma de operações sem anestesia para punir um pobre vigarista branco. O ator, há muito afastado do cinema, condenara esse tipo de filme, mesmo quando feito por negros: “Os filmes dos jovens diretores negros tratam apenas da juventude nos guetos da América, sobre cocaína, sangue e violência. Hollywood adorou essa linha e se esqueceu de me chamar”. Mas neste comeback, o veterano ator não conseguiu evitar que um veterano diretor independente o obrigasse a desempenhar um vilão típico dos filmes mais comerciais. Seguiram-se, a este, outros filmes alimentares: o policial de suspense A armação (The Gingerbread Man, 1998); as comédias A fortuna de Cookie (Cookie’s Fortune, 1999) e Dr. T e as mulheres (Dr. T. and the Women, 2000).

Mas, como sempre, Altman conseguiu novamente recuperar-se e compor um magnífico painel da sociedade britânica em Assassinato em Gosford Park (Gosford Park, 2001), cuja trama se passa na década de 1930. A bela casa de campo Gosford Park é outra arena bem montada – sobre um cadáver, naturalmente. O casal McCordler oferece uma festa na mansão; a eclética lista dos convidados inclui uma condessa, um herói da Primeira Guerra, um astro de cinema, que se revelará homossexual. Dentro da mansão, o velho mundo choca-se com o novo mundo; e se as diversas classes sociais aparentam conviver em paz, a harmonia é apenas aparente: a história pouco a pouco revela paixões e ódios submersos, que explodem na violência de um assassinato.

Altman dizia que nunca teve de dirigir um filme que não tivesse escolhido ou desenvolvido. Recusava aposentar-se: lançou De corpo e alma (The Company, 2003) e começou a preparar novo filme às vésperas de completar 80 anos de idade.

Eterno defensor da contracultura, o cineasta declarou que se George Bush fosse reeleito abandonaria o país. Não abandonou os EUA em 2004, mas suas produções mostraram-se cada vez mais vinculadas à Europa. No começo de 2006, ao receber pela primeira vez um Oscar, na verdade um Oscar especial, honorário por sua carreira, Altman revelou ter feito um transplante de coração onze anos antes, e que pensava em viver muito mais tempo ainda, já que haviam colocado nele o coração de uma pessoa que morrera jovem; não queria, enfim, que a Academia o enterrasse com esse prêmio – que é dado sempre pouco antes do ganhador morrer, para livrar a consciência dos acadêmicos por injustiças anteriormente cometidas –, mas ele sabia que a morte o rondava. Realizou apenas mais um filme: Bastidores da Rádio / A Última Noite (A Prairie Home Companion, 2006), estrelado por Meryl Streep, sobre a última noite da transmissão de um programa de rádio numa emissora cujas portas estão sendo fechadas...

Como Orson Welles, Robert Altman tinha a aura do gênio, sem o gênio de Orson Welles. Não foi tão grande quanto George Cukor, Ingmar Bergman ou Rainer Werner Fassbinder, mas foi como eles grande diretor de mulheres: em seus filmes, atrizes como Susannah York, Karen Black, Sandy Dennis, Shelley Duvall e Sissy Spacek atingiram alguns cumes de suas carreiras. Pode-se dizer que Altman foi, como Francis Ford Coppola, um diretor in-and-out, acertando e errando sucessivamente, sem se conformar nem com seus fracassos nem com seus sucessos. Há certa grandiosidade neste inconformismo. Talvez por isso, mesmo em seus piores momentos, Robert Altman tenha contado com o favor de críticos generosos, que não se cansaram de descobrir sucessos até em seus fracassos.

Luiz Nazario

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Lápide 005 – Sven Nykvist (1922-2006)


A arte da fotografia é uma das mais complexas e exigentes dentre as múltiplas artes que o cinema – êmulo mais perfeito da “obra de arte total” wagneriana – necessita lançar mão. Tal arte possui sua própria história, marcada por alguns certos cumes qualitativos. Entre eles, está sem dúvida a obra do fotógrafo Sven Nykvist, nascido em 1922 e morto dia 20 de setembro, em uma casa de repouso na qual estava internado, devido às complicações de uma afasia progressiva. Premonitórios da doença que o levaria a morte – a afasia, ou perda da capacidade de comunicação por palavras – são os filmes cuja direção de fotografia assinou, pesados e densos em imagens plenas de significado comunicativo que estão para muito além das mil palavras que cada imagem, usualmente, costuma valer.

Grandes fotógrafos do cinema estabeleceram parcerias, longas ou breves, que revolucionariam o meio: F. W. Murnau e Robert Flaherty, Gregg Toland e Orson Welles/John Ford, Sacha Vierny e Alain Resnais, Anthony Dod Mantle e Lars Von Trier. Nykvist, embora tenha trabalhado com outros diretores – como Woody Allen, Phillip Kaufmann e Bob Fosse – estabeceleu parceria com Ingmar Bergman, e a relação sinérgica com o diretor sueco. Um dos exemplos máximos dessa parceria é a “trilogia do silêncio” – Através de um Espelho (Såsom I En Spegel, 1961), Luz de Inverno (Nattvardsgästerna, 1962) e O Silêncio (Tystnaden, 1963) – e seus tons pesados de preto e branco e enquadramentos reveladores, perfeitos para a complexidade da trama. Ganhou o Oscar em duas ocasiões, por seu esplêndido trabalho de fotografia em Gritos e Sussurros (Viskningar och rop, 1972) e Fanny e Alexander (Fanny och Alexander, 1982). Dirigiu alguns poucos filmes, que não alcançariam a sutileza e genialidade de sua fotografia.

Uma boa parte da produção de Nykvist como fotógrafo de Bergmam foi lançada, no Brasil, pela Versátil Home Video, em cópias de excelente qualidade.

- Site da Versátil

Alcebiades Diniz Miguel

terça-feira, 18 de abril de 2006

Lápide 004 – Richard Fleischer (1916-2006)


Dia 25 de março falecia, de causas naturais, o cineasta e sobrinho do grande animador Dave Fleischer, Richard Fleischer. Versátil, Fleischer era um artesão que conhecia muito bem seu ofício, tendo levado às telas desde tramas de sabor noir – como Trapped (1949) e The Narrow Margin (1952) –; grandes adaptações para estúdios como a Disney (a adaptação baseada na obra de Jules Verne 20.000 Leagues Under the Sea, de 1954, é um de seus filmes mais conhecidos e celebrados); finos retratos psicológicos de assassinos patológicos, em Compulsion (1959) e The Boston Strangler (1968); filmes históricos – como a reconstituição do ataque a Pearl Harbor no filme Tora! Tora! Tora! (1970) –; até mesmo filmes de encomenda para o cinema descartável de consumo imediato, caso de seus filmes dos anos 1980, como o popular Conan the Destroyer (1984). Contudo, são suas produções para o cinema fantástico, de suspense psicológico e de terror, que resgatam a obra do diretor do limbo no qual tantos artesãos da indústria de Hollywood, por melhor que fossem, acabaram caindo. Filmes como Fantastic Voyage (1966), Blind Terror (1971) e, principalmente, Soylent Green (1973) demonstram que Fleischer era imaginativo e sabia contar histórias intrincadas aproveitando os recursos cinemáticos com elegância. Especialmente Soylent Green que – muito tempo antes de Blade Runner – criava o curto-circuito dos universos do noir e da ficção científica, unificados pela visualidade, pela alegoria, pela forma barroca da trama. É bem verdade que o próprio Fleischer não colheria os frutos e as possibilidades visionárias descortinadas por seus melhores filmes. O veterano diretor, nos anos 1980, acabaria dirigindo continuações de franquias do cinema de consumo que banalizavam e reduziam suas visões – Conan ou Amityville, por exemplo –, tornando sua própria biografia algo como um belo argumento para um filme sobre o esgotamento do cinema imaginativo.

Como a produção de Richard Fleischer é volumosa, destacamos aqui as edições de seus melhores filmes em DVD:

- Trapped, em edição norte-americana.

- The Narrow Margin, em edição norte-americana.

- 20,000 Leagues Under The Sea, em edição norte-americana.

- Compulsion, em edição norte-americana.

- Fantastic Voyage, em edição norte-americana. Esse filme foi lançado no Brasil, com o título Viagem Fantástica.

- The Boston Strangler, em edição norte-americana.

- Tora! Tora! Tora!, em edição norte-americana. Também lançado no Brasil, com o mesmo título.

- See No Evil (nome utilizado nos EUA para o filme Blind Terror, produzido no Reino Unido), em edição norte-americana.

- Soylent Green, em edição norte-americana.

Alcebiades Diniz Miguel

Lápide 003 - Vilgot Sjöman (1924-2006)


Em conseqüência de um derrame cerebral, faleceu, em 10 de abril, o escritor e cineasta sueco Vilgot Sjöman, um discípulo de Ingmar Bergman, que chocou o público da época ao tornar-se um dos primeiros diretores a mostrar no cinema cenas de sexo de maneira realista, em filmes como A amante (Aelskarinnan, 1962); 491 (idem, 1964), adaptado do romance de Lars Goerling; e o díptico Sou curiosa, amarelo (Jag aer nyfiken-gul, 1967) e Sou curiosa, azul (Jag aer nyfiken-blaa, 1968), cujos títulos referem-se às cores da bandeira sueca: não se limitando ao erotismo, a obra de Sjöman engaja-se numa crítica política da sociedade. O cineasta, contudo, só adquiriu fama pelo forte conteúdo sexual de seus filmes, chegando a ser processado diversas vezes, principalmente nos Estados Unidos, por obscenidade e pornografia. Hoje, as cenas de sexo dos filmes de Sjöman podem parecer ingênuas diante da freqüência com a qual os novos cineastas passaram a abordar o ato sexual de maneira escancarada, e geralmente distante de qualquer propósito crítico, em filmes pífios como 9 canções (9 Songs, Inglaterra, 2004), de Michael Winterbottom, e The Brown Bunny (idem, EUA, 2003), de Vincent Gallo. Se Sjöman quebrou tabus da representação sexual, avançando estética e politicamente, a pornografia no atual cinema mainstream não pretende quebrar tabus sociais, limitando-se a refletir o caos social e a perda dos limites.

DVDs disponíveis:

- I Am Curious... (I Am Curious Yellow/I Am Curious Blue Set) - edição da Criterion Collection.

José Rodrigo Gerace

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Lápide 002 - Guará Rodrigues (1941-2006)


“Espero morrer antes de fazer TV. Vai contra os meus princípios, apesar de não tê-los”, disse-me certa vez o ator e cineasta Guará Rodrigues, que morreu no Rio de Janeiro assistindo à TV, certamente durante a transmissão de algum clássico do cinema, na aurora do dia 21 de fevereiro de 2006. Foi num cochilo que ele morreu: só assim a morte pode chegar até ele. Pois a morte não combina com alguém que era tão cheio de projetos, tão cheio de energia. A vida de Guará foi um projeto de ser o que ele sonhava, a cada dia. Dirigi o último trabalho do Guará, o vídeo Filoctetes (2006), a partir de um roteiro que havia escrito há uns vinte anos. Ele se lembrou desse roteiro de repente – um monólogo de quinze minutos sobre a solidão de um ator que ensaia a peça de Sófocles sentindo a mesma solidão do personagem. Decidimos gravar em digital, no meu apartamento, num único dia e num único plano-seqüência, com dois alunos bolsistas – Luiz Amaral e Rodrigo Gerace – fazendo luz e câmara. Depois da gravação, Guará viajou para Cabo Frio, ao encontro da morte. Nos vários anos de nossa longa amizade, fizemos outros trabalhos juntos: Sexo-verdade (2001), Prisioneiros do planeta Ornabi (2003), alguns super-8 com Elaine Mansano, e cenas para o DVD Pier Paolo Pasolini, em produção. Concluíamos na Escola de Belas Artes da UFMG um projeto de elaboração da filmografia completa do Guará enquanto ator, diretor, roteirista, assistente de direção, sonoplasta, cenógrafo... – filmografia que chega a 100 títulos, muitos deles invisíveis ou desaparecidos. O resultado dessa pesquisa estará disponível no livro-DVD Guará: o criminoso imaginário, que incluirá uma longa entrevista que ele nos concedeu, além de depoimentos de diversos amigos sobre sua vida e obra, gravados em Betacam (no estúdio do FTC da Escola de Belas/UFMG); seu livro Memórias de um hóspede, seus roteiros, e tudo o que foi escrito sobre ele na imprensa – sua escassa, mas divertida, “fortuna crítica”. Lamentável que Guará não possa ver finalizado esse exaustivo trabalho de documentação realizado em sua homenagem, e que o animava tanto nos últimos anos. Guará precisava desesperadamente de reconhecimento, era um grande comediante, um Grouxo Marx dos trópicos, mas poucos diretores perceberam a dimensão de sua genialidade. Para além da figura mundana que ele aparentava ser, e que era mesmo, Guará levava a sério, como poucos no Brasil, a arte do cinema, para ele a coisa mais sagrada.

Guará em DVD:

- Moon Over Parador (EUA/Brasil, 1988), em edição americana;

- Prisioneiros do Planeta Ornabi (Brasil, 2003, 15’). Direção e roteiro: Luiz Nazario. Com Guará Rodrigues. EDIÇÃO DE COLECIONADOR. Primeira edição com tiragem limitada a 50 cópias numeradas e assinadas pelo autor. DVD ZONA 2, numeração atual de 5 a 50 – 60,00. Encomendas: luiz.nazario@terra.com.br.

- Filoctetes (Brasil, 2006, 15’). Direção e roteiro: Luiz Nazario. Com Guará Rodrigues. EDIÇÃO DE COLECIONADOR. Primeira edição com tiragem limitada a 50 cópias numeradas e assinadas pelo autor. DVD ZONA 2, numeração atual de 1 a 50 – 60,00. Encomendas: luiz.nazario@terra.com.br.

Luiz Nazario

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Lápide 001 – Walerian Borowczyk (1923-2006)


Walerian Borowczyk foi um dos diretores mais interessantes do cinema polonês, iniciando sua carreira produzindo uma série de cartazes de filmes e, a partir dos anos 1950, dezenas de animações de impacto e humor negro. Fugindo do regime comunista, Borowczyk continuou a produzir na França com Jan Lenica; as animações gráficas, alegóricas, surrealistas da dupla, feitas com objetos, recortes e fotografias, fugiam da tradição comunista da animação inspirada em contos de fada e lendas populares: Dom (1958), Le théâtre de M. et Mme Kabal (1962) ou L’Encyclopédie de Grand-maman (1963) registram a alienação do homem após Auschwitz e Hiroshima, condenando tanto a ordem burguesa quanto a ordem comunista. Em Renascimento (Renaissance, 1963), um cenário é explodido por uma bomba e “reconstituído” por animação, apenas para voltar a ser novamente explodido; Les jeux des anges (1964) evoca o nazismo com imagens cruéis... Passando para o cinema live-action, fixou-se no erotismo: realizou o kafkiano Goto, a ilha do amor (Goto, L’île de L’amour, 1968) e exaltou as perversões em Contos imorais (Contes Immoraux, 1974), com Paloma Picasso vivendo, num dos quatro episódios, a Condessa Elisabeth Bathory que se banha no sangue de cem virgens para permanecer sempre jovem; e em História de um pecado (Dziejz Grechu, 1975) – talvez sua obra-prima, acompanhando a lenta perdição de uma garota seduzida. Menos empenhados foram A mulher e besta (La Bête, 1975), que apresenta um caso escabroso de monstruosidade hereditária, que confirma a tese de Jean Boullet que, no ensaio La Belle et la Bête, associa a monstruosidade ao complexo de Édipo, com um erotismo surreal de bestialidade explícita que chega às raias da paródia; A margem (La Marge, 1976), com a dupla de corpos eróticos Sylvia Kristel e Joe Dalessandro entregando-se à sodomia; As heroínas do mal (Les Héroïnes du Mal, 1979), que evoca o universo do Marquês de Sade. Em todos os filmes de Borowczyk, mesmo nos piores, como Emmanuelle V (1987), percebemos, na textura e plasticidade das imagens, a mão do artista gráfico, pintor e animador formado na Escola de Belas Artes da Cracóvia. Resvalando na pornografia soft, o diretor atraiu o desprezo da crítica, mas sua obra fortemente ancorada na tradição do Surrealismo ainda não foi devidamente avaliada.

DVDs disponíveis:

- Contes immoraux (1974), em edição inglesa;

- The Story Of Sin (Dzieje Grzechu) (1975), em edições americana e inglesa;

- Interno di un convento (1977), em edição inglesa;

- Emmanuelle V (1987), em edição americana;

- Cérémonie d'amour (1988), em edições americana e inglesa.

Luiz Nazario